O ex-ministro e atual secretário Municipal da Saúde de São Paulo Alexandre Padilha foi o convidado do programa entrevista FPA, no dia 4 de novembro. Comandada pelo diretor da Fundação Perseu Abramo (FPA), Joaquim Soriano, a entrevista abordou temas como o déficit de leitos nas periferias, o programa De Braços Abertos e as parcerias com organizações sociais.
Desafios
Para Padilha, São Paulo enfrenta dois grandes desafios na área da saúde: 1) ser uma cidade mais saudável e 2) diminuir o tempo de espera por tratamento nos serviços públicos de saúde. O primeiro desafio exige um esforço conjunto, já o segundo é um problema próprio de sua pasta, sobre o qual o secretário tem se debruçado.
Segundo o secretário, a Prefeitura vem atuando no sentido de tornar a cidade mais saudável, criando equipamentos públicos de lazer para tentar diminuir esta incidência, abrindo inclusive avenidas para uso recreativo aos fins de semana; pensando uma política de transportes que reduza acidentes e garanta que as pessoas cheguem mais rápido em casa; inserindo alimentos orgânicos na merenda escolar; além de diversas outras políticas.
Quanto ao segundo desafio, Padilha afirma que a Secretaria Municipal da Saúde tem feito um esforço para implantar a rede Hora Certa, programa que deve levar a toda a cidade, sobretudo à periferia, unidades de saúde em que seja possível que seus pacientes façam consultas com especialistas, exames e cirurgias em um só local, reduzindo filas e tratando os cidadãos de forma mais humana.
Há hoje sete unidades da rede Hora Certa espalhadas pela cidade e outras cinco unidades móveis. Segundo o secretário, a meta para o próximo ano é colocar em funcionamento mais 23 unidades, instalando ao menos um hospital da rede em cada subprefeitura da periferia, reduzindo a desigualdade na distribuição de leitos e serviços de saúde.
“Em seu primeiro mandato, Haddad já vai ser o prefeito que construiu mais leitos hospitalares na periferia da cidade de São Paulo em toda sua história”. Padilha conta que, além dos hospitais da rede Hora Certa, o município também receberá Unidades de Pronto Atendimento (UPA) 24 horas; dois grandes hospitais, um em Parelheiros e outro na Brasilândia; além do Hospital Santa Marina, entre Jabaquara e Cidade Ademar, já em funcionamento.
De Braços Abertos
Sobre as críticas contra o programa de redução de danos De Braços Abertos veiculadas recentemente por veículos da grande mídia, o secretário questiona: “desafio estes órgãos a mostrarem um programa público ou privado que tenha um resultado melhor do que o De Braços Abertos na cidade de São Paulo, inclusive programas aplicados em regiões menos complexas e vulneráveis”.
Padilha lembra que as pessoas já não acreditavam mais em ações do Estado naquela região. “Hoje tem todo um trabalho de produzir vínculo, de construir credibilidade, em que os agentes comunitários, enfermeiros, médicos, psicólogos, terapeutas ocupacionais e agentes de redução de danos têm que fazer no dia a dia porque aquelas pessoas que vivem naquele território não acreditavam mais em programas; porque elas viveram 20 anos com sucessivas tentativas que foram falidas de higienização daquele lugar, como se você enfrentasse um problema de saúde pública colocando a sujeira para debaixo do tapete”.
Ele falou também sobre o sucesso do programa. “O que o Haddad vem fazendo é acolher estas pessoas, os seus problemas, suas vulnerabilidades, e ter um programa com um resultado fantástico comparado com qualquer experiência mundial. Não é à toa que toda semana vêm pesquisadores de organizações de outros lugares do mundo, instituições querem conhecer o De Braços Abertos; agora, em novembro, a cidade de São Paulo vai sediar um grande evento sobre políticas de redução de danos, sobre como lidar com o uso abusivo de drogas. Porque o que fracassou de fato é a tal de política de guerra às drogas, que na verdade foi uma política de guerra aos pobres”. E completa: “mais que uma política de redução de danos, o De Braços Abertos é uma política de ampliação da vida”.
Organizações sociais
O secretário enxerga algumas vantagens na parceria com organizações sociais (OS). Ele lembra que por muito tempo algumas destas organizações ocuparam um espaço que o Estado não quis ocupar, sobretudo nas periferias, no oferecimento de serviços de saúde e que isso fez com que estas instituições acumulassem uma experiência que pode ajudar o Estado a criar políticas públicas efetivas para as diversas regiões.
“A cidade de São Paulo foi a única das grandes cidades que sofreu com interrupções na implantação do Sistema Único de Saúde. O SUS existe há 25 anos e, por exemplo, o município sofreu uma primeira interrupção na criação do Plano de Atendimento à Saúde (PAS); depois sofreu uma segunda interrupção, ao passar o controle de várias unidades básicas de saúde ao Governo do Estado; depois voltaram ao município, uma terceira interrupção; durante oito anos das gestões anteriores houve um processo de fragmentação com a entrega, não da parceria, mas da gestão de toda a rede para organizações sociais”.
Padilha narrou situações em que por vezes até três organizações sociais diferentes geriam serviços de saúde no mesmo prédio da administração pública municipal. Apesar de discordar da forma como as gestões anteriores entregaram a gestão às OS, o secretário reforça que a experiência técnica destas instituições precisa ser bem aproveitada, o que tem levado a Prefeitura a retomar a gestão pela Secretaria Municipal da Saúde, mantendo apenas a prestação dos serviços sob responsabilidade das OS, com diretrizes claras e apenas uma operando por região.
Fonte: FPA