O jornal Folha de S. Paulo traz na edição desta quarta-feira, 23, um estudo apontando que os paulistanos, mesmo entre aqueles que possuem orientações ideológicas distintas, defendem legislações mais duras e os direitos de mulheres e pessoas negras. A pesquisa foi elaborada pelo Monitor do Debate Político no Meio Digital, projeto que analisa estatisticamente reações a conteúdos publicados nas redes, e coordenada por Márcio Moretto e Pablo Ortellado, ambos professores da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP).
A pesquisa, intitulada “Como as guerras culturais afetam a opinião da população”, descreve “guerras culturais” como o “debate público centrado em temas morais como drogas, punição a criminosos e feminismo”. O estudo divide a população em três grupos: I. Progressistas (21%), II. Punitivistas Laicos (35%) e III. Conservadores Religiosos (44%); a partir daí analisa esses três perfis em sua distribuição na população, características demográficas – como idade, escolaridade e renda – e a relação com as identidades políticas.
Foram realizadas 1.144 entrevistas no dia 28 de setembro de 2019, utilizando uma amostragem representativa dos habitantes da cidade; a margem de erro da pesquisa é de três pontos. O questionário utilizado busca identificar a adesão da população a um conjunto de 22 afirmações que ilustram posições progressistas e conservadoras sobre as questões que os pesquisadores consideraram mais relevantes do debate público dos últimos 25 anos.
“Nosso questionário foi construído a partir de um banco de dados com artigos de opinião sobre drogas e sobre questões relacionadas a mulheres, negros e à população LGBT nos jornais Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo e O Globo entre 1994 e 2014. Além disso, mapeamos por meio do monitoramento do Facebook o debate público sobre esses temas de 2014 a 2016. As afirmações do questionário buscam ilustrar as posições progressistas e conservadora sobre as questões que dominaram o debate público nos últimos anos […]”, explicam os autores no texto do artigo.
Algumas questões chamam atenção: apesar de 67% dos entrevistados discordarem da afirmação de que “O cidadão de bem deve ter o direito de portar arma”, há uma maioria alinhada com afirmações do tipo “Menores de idade que cometem crimes devem ir para a cadeia” (72%) e “Precisamos punir os criminosos com mais tempo de cadeia” (75%).
Por outro lado, é preponderante a percepção da existência estrutural do racismo, já que 93% afirmam que “Os negros ainda sofrem preconceito no Brasil” e 73% dos pesquisados concordam que “A polícia é mais violenta com os negros do que com os brancos”.
Na mesma linha, predominam ideias confrontando valores machistas, sendo que 90% discordam da afirmação de que “O lugar da mulher é em casa cuidando da família” e prevalecendo a concordância com afirmações do tipo “Cantar uma mulher na rua é ofensivo” (73%), “Não se deve condenar uma mulher que transe com muitas pessoas” (78%) e “A mulher deve ter o direito de usar roupa curta sem ser incomodada” (91%).
Já em relação as questões relacionadas à população LGBT, 67% dos pesquisados discordam da ideia de que “A união de pessoas do mesmo sexo não constitui uma família” e concordam que “A escola deveria ensinar a respeitar os gays”.
Chama atenção, ainda, que dentre o público pesquisado, 16% afirma ter preferência partidária pelo PT, que foi o partido mais citado; PSL e PSOL vêm na sequência, cada um com 6% de preferência dos entrevistados.