Peça de ficção orçamentária: Um Desmonte silencioso da política de mobilidade urbana

0
470

A Comissão de Finanças e Orçamento da Câmara Municipal de São Paulo realizou, nesta quarta-feira, 15 de outubro de 2025, audiência pública temática para debater o orçamento destinado à Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana e Transporte, à SPTrans e à CET.

A mobilidade urbana é um tema central para qualquer cidade, especialmente para uma metrópole da dimensão de São Paulo, onde milhões de pessoas dependem diariamente do transporte público e da infraestrutura viária para trabalhar, estudar, acessar serviços de saúde e exercer o direito básico de ir e vir com dignidade.

A audiência contou com a presença de centenas de cidadãos, representantes do Sindicato dos Condutores e Cobradores de Ônibus, trabalhadores da CET, além de vereadores membros da Comissão de Finanças e de outras comissões temáticas. A reunião foi presidida pelo vereador Jair Tatto (PT) e contou com a presença do vereador Senival Moura (PT), presidente da Comissão de Trânsito, Transporte e Atividade Econômica.

É importante destacar que os representantes da SMT, CET e SPTrans não compareceram à audiência pública, uma demonstração de descaso e desrespeito com o Parlamento e, sobretudo, com a população paulistana que depende da mobilidade urbana.

Desde o início da atual legislatura, uma das principais preocupações da Comissão de Trânsito, Transporte e Atividade Econômica tem sido a segurança viária, a situação do transporte público e a infraestrutura viária, desafios centrais para São Paulo.

Falar de segurança viária é falar de preservação da vida. Em uma cidade com alto fluxo de veículos, motociclistas e pedestres, políticas públicas eficazes são indispensáveis. Campanhas educativas, fiscalização, melhorias no desenho urbano e investimentos em infraestrutura são ações que salvam vidas e, portanto, devem estar refletidas no orçamento municipal.

Entretanto, o que se observa é o oposto: um orçamento insuficiente e desconectado da realidade.

Dados do Infosiga revelam a gravidade da situação: em 2024, São Paulo registrou 1.031 mortes no trânsito, o maior número dos últimos nove anos. Em 2025, até setembro, já foram 767 vidas perdidas nas ruas e avenidas da capital.

Enquanto a cidade sangra, o orçamento diminui. A CET, empresa essencial para a segurança viária, sofreu nova redução orçamentária. O Fundo Municipal de Desenvolvimento de Trânsito, criado para garantir a continuidade das políticas públicas de mobilidade e dos Serviços de Engenharia de Tráfego, executados pela CET, previa R$ 2 bilhões em receitas para 2026. No entanto, R$ 1 bilhão foi retirado, cortando metade dos recursos.

O orçamento total da CET para 2026 será de R$ 1,36 bilhão, sendo que apenas R$ 1 bilhão virá do fundo; o restante dependerá do Tesouro Municipal. Essa mudança enfraquece a autonomia financeira da CET, que antes tinha recursos assegurados e agora precisa disputar verbas com outras secretarias.

Em 2023, a empresa contou com R$ 1,38 bilhão, valor insuficiente, porém  superior ao previsto para 2026, mesmo com o orçamento municipal crescendo 41,3%, passando de R$ 95 bilhões (2023) para R$ 135 bilhões (2026).

Outro ponto preocupante está nos subsídios da tarifa do transporte público. O orçamento apresentado pela Prefeitura indica possível reajuste da tarifa, já que o custo atual do subsídio é superior aos valores previstos para o próximo ano.

Em 2024, o valor executado foi de R$ 6,6 bilhões; em 2025, o orçamento foi de R$ 6,3 bilhões, um aumento de R$ 800 milhões em relação ao ano anterior. Considerando que até setembro de 2025 já foram empenhados R$ 6 bilhões, seria esperado que a previsão para 2026 ultrapassasse R$ 7 bilhões, o que não ocorreu.

A cada rubrica, uma nova decepção. A função Transporte, por exemplo, desapareceu da apresentação orçamentária. A Secretaria Municipal de Planejamento apresentou as variações de áreas como Saúde, Assistência Social e Cultura, mas não incluiu o transporte, cuja dotação caiu de R$ 13,8 bilhões (2024) para R$ 9,9 bilhões (2025).

No caso da infraestrutura cicloviária, a situação é igualmente alarmante.

Em 2024, de uma previsão de R$ 279 milhões, foram empenhados apenas R$ 127 milhões. Em 2025, o valor empenhado despencou para R$ 14,5 milhões, e para 2026, a previsão é de apenas R$ 107 milhões.

O Transporte Público Hidroviário também foi atingido. Após decisão judicial que suspendeu a contratação da empresa responsável, o orçamento caiu em um terço: de R$ 21,9 milhões (2025), com R$ 20,5 milhões empenhados, para apenas R$ 14,6 milhões em 2026.

Já em relação aos terminais de ônibus, o prefeito Ricardo Nunes dá continuidade à política de concessões e privatizações.

Para 2026, não há valores previstos para manutenção e operação dos terminais, em contraste com os R$ 138 milhões orçados em 2025, dos quais R$ 118 milhões já foram empenhados até setembro.

Enquanto isso, a contraprestação das Parcerias Público-Privadas (PPPs) com terminais urbanos quase dobrou, passando de R$ 153 milhões (2025) para R$ 286 milhões (2026).

Esses números revelam uma verdadeira tragédia urbana e expõem o descaso da atual gestão do prefeito Ricardo Nunes, que envia à Câmara um orçamento tímido, insuficiente e sem compromisso com a mobilidade da população paulistana. O Prefeito, abandona a CET, reduz investimentos, enfraquece o transporte público e penaliza a população, especialmente os mais pobres, que dependem diariamente do sistema público de transporte para viver.

Falta planejamento, falta prioridade e, sobretudo, falta sensibilidade diante das vidas perdidas diariamente no trânsito e da crescente precarização dos serviços de transporte público na maior cidade do país. Diante de tais problemas os vereadores foram unânimes em exigir a presença das autoridades em nova audiência pública, a ser realizada no dia 5 de novembro às 10h.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui
Captcha verification failed!
Falha na pontuação do usuário captcha. Por favor, entre em contato conosco!