O Partido dos Trabalhadores por meio de sua Executiva Nacional e através de suas bancadas no Congresso Nacional, Assembleias Legislativas e Câmaras Municipais repudia o Golpe de Estado cívico-militar empreendido contra o governo de Evo Morales.
Neste domingo (10/11), o recém eleito presidente da Bolívia Evo Morales renunciou à presidência da Bolívia, após sofrer diversas ameaças de militares rebelados – incluindo sequestro de familiares e espancamento de governadores de seu partido –, em um movimento oposicionista de caráter claramente golpista. Ao ato do presidente, seguiram-se outras renúncias de lideranças do MAS (Movimento al Socialismo), incluindo o vice-presidente, a presidenta do Senado e o presidente da Câmara. Atualmente Evo Morales encontra-se exilado no México.
Apesar das críticas que podem ser feitas à tentativa de Evo Morales de concorrer a um quarto mandato, cuja constitucionalidade foi garantida por uma interpretação jurídica controversa feita pela corte constitucional do país, após plebiscito cujo resultado foi contrário às aspirações do ex-mandatário, não há justificativa para a escalada de violência empregada pela oposição nem o retorno da tutela militar sob os processos políticos do continente.
O próprio Evo Morales, após consentir com uma auditoria das eleições pela OEA que apontou alguns indícios de fraudes – cometidas, supõe-se, para evitar um segundo turno — havia sinalizado para uma saída pacífica para a crise: um novo processo eleitoral, sob estreita vigilância dos órgãos de fiscalização, de observadores internacionais e da imprensa.
O processo político boliviano relembra anos tenebrosos para o país, da ditadura militar de Hugo Banzer, uma das mais cruéis do continente, instaurada pelo pacto dos oligarcas locais com a ditadura brasileira e com os Estados Unidos. Hoje, vemos o governo Trump celebrar a renúncia de Evo Morales, assim como o governo de Jair Bolsonaro.
É importante considerar que o golpe boliviano se volta contra uma das mais bem-sucedidas experiências dos chamados “governo progressistas” na região: com uma média de crescimento superior ao dobro do resto do continente, reduzindo a pobreza e o coeficiente de desigualdade em 25 pontos porcentuais cada; conquistando o título de território livre do analfabetismo pela Unesco; nacionalizando os hidrocarbonetos, após a privatização de gestões neoliberais passadas ao mesmo tempo que assegurava as menores taxas de desemprego e inflação do continente.
Esta experiência também foi responsável por incluir politicamente, pela primeira vez em sua história, os povos tradicionais e indígenas: a Constituição promulgada em 2009 assegura amplos direitos aos povos indígenas, consolidando o país como Estado plurinacional. Este aspecto foi fortemente atacado na atual ação oposicionista: o palácio presidencial foi invadido com manifestantes carregando cruzes e bíblias, após arrancarem uma imagem de Pachamama e militares ostentaram seu repúdio à cultura aymara rasgando de suas fardas a bandeira Wiphala – representante da filosofia desta nação indígena, assim como da diversidade étnica e cultural do Estado boliviano.
Contra o retorno de tempos sombrios do continente, no qual crises políticas eram solucionadas por quarteladas, ontem movimentos sociais, partidos políticos e imigrantes bolivianos se reuniram em um belo ato em repúdio ao golpe de Estado e em solidariedade ao povo boliviano em frente ao Consulado Geral da Bolívia em São Paulo, localizado na Vila Mariana. Democracia sempre!