Coronavírus além dos números: Adelino, 55, jardineiro

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– com Martha Funke, da Rede de Comunicadores da Liderança do PT

O segundo depoimento da série “CORONAVÍRUS ALÉM DOS NÚMERO” apresenta a história de um trabalhador autônomo que vive as incertezas da conjuntura atual. Prestador de serviços, aguardava com expectativa da renovação de sua licença, ainda pendente diante do pacote de privatizações anunciado pelo Prefeito Bruno Covas (PSDB) e que inclui o Serviço Funerário do Município – autarquia a qual está ligado seu local de trabalho.

Não bastasse essa angústia, ele ainda precisa lidar com as consequências de uma pandemia que modificou sua rotina – e a de diversas cidades em todo o mundo. Seu principal relato, assim como muitas famílias já vêm sentindo, é o da alta no preço da comida na gôndola dos supermercados.

Veja a seguir como a crise sanitária provocada pela pandemia de Coronavírus afeta a vida das pessoas que vivem na cidade de São Paulo. Releia também a história de Natalina, uma trabalhadora doméstica e moradora do Parque Fernanda, que tem buscado formas de driblar as incertezas e as dificuldades para cuidar de seus dois filhos.

UM PAI TENTANDO ALIMENTAR SEU FILHOS

Adelino Nascimento, 55, trabalha jardineiro autônomo no Cemitério da Consolação. É casado com a Geni, pensionista do INSS e pai de Esther, 15, e Raphael, 13. Morador do Jardim Celeste, bairro na região do Butantã que faz divisa com o município de Taboão da Serra, reside com a família na casa do sogro e não paga aluguel, mas afirmou ter notado aumento nos preços dos mantimentos.

Foto: Acervo Pessoal

“Venho dois ou três dias por semana para o cemitério, está restrito com a entrada de pessoas. Ando meio ressabiado com a situação, o risco é comum em qualquer local. Aqui já teve cinco casos de sepultamento decorrente do vírus, o caixão vem lacrado então não tem tanto risco assim. O Serviço Funerário dá luva e máscara só para os coveiros.

Eu venho de ônibus, moro na região do Butantã, perto da [Avenida] Francisco Morato, próximo ao futuro terminal Vila Sonia. Pego o Campo Limpo – Praça Ramos, dá pra tomar o horário mais vazio. Até agora mantive o que ganho, limpo os jazigos, tem algumas pessoas que pagam por mês, outros com acordo de três meses ou de seis meses.

Tenho mulher e um casal de filhos, a menina fez 15 anos no domingo e fizemos um churrasquinho restrito, foi só um amigo meu… Sou autônomo, todo dinheiro que pego reponho mantimentos, tenho estoque para dois meses. Fui no mercado e constatei o aumento da mercadoria. O feijão Kicaldo, paguei R$ 4,29, mas quinta-feira passada [2/4] tava R$ 9,99 no Assaí [atacadista do Grupo Pão de Açúcar].

Os filhos estudam desde que nasceram no instituto Ana Rosa, na Vila Sonia [organização que trabalha com crianças e jovens em vulnerabilidade social, mantida pela Associação Barão de Souza Queiroz de Proteção à Infância e Juventude]. Depois de lá vão para a escola. A menina está no colegial [Ensino Médio], ele no ginásio [Ensino Fundamental]. Vão de ônibus, têm passe livre, aquele que carrega todo mês e a gente paga uma taxa por ano. Agora suspenderam a cota dos estudantes e eles estão em casa, fazendo lição no meio da rede social deles. Os professores continuam em contato com as crianças.

Tenho vizinhança de classe média alta que não mudou nada. Mas reparei no comércio fechado perto da minha casa, tenho amigos com bares… tá tudo fechado, a pessoa vive daquele serviço e tem de pagar aluguel, está em conflito.

Não sei se vamos ter o auxílio do governo. Somos autônomos, com licença pelo serviço funerário renovada todo ano. A previsão era privatizar os 22 cemitérios do município, demos entrada para renovar a licença e não saiu. Minha mulher é viúva pensionista e moro na casa do pai dela, então não pago aluguel.

Trabalho aqui desde 1995, fiquei desempregado, tinha um licenciado precisando de auxiliar e eu vim. Tinha prestado concurso para a Eletropaulo e me chamaram em 1996, fiquei até 2001 quando fui demitido e desde aquela época estou só no cemitério. Aqui a gente conhece muitas pessoas influentes na sociedade, tem contato com famílias como Chohfi¹ e Jafet². Dentro dessas famílias temos nossos clientes.”

¹ Família do imigrante sírio Ragueb Chohfi, fundador da Companhia de Tecidos Niazi Chohfi e que dá nome à famosa avenida da zona Leste paulistana.
² Família do empresário libanês Nami Jafet, cujo filho Ricardo foi nomeado presidente do Banco do Brasil por Getúlio Vargas e denomina outra grande avenida do município, esta na zona Sul.

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