Lula na memória e no coração

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“Lula é o líder em todos os cenários e vem crescendo consistentemente, apesar da perseguição por setores do sistema judicial, com ampla repercussão negativa na mídia”, diz Gleise. Foto: Ricardo Stuckert 
A um ano das eleições de 2018, a candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva se impõe como fato irreversível. Lula não é apenas candidato do PT, de forma irrevogável, como definiu o Diretório Nacional do partido em 22 de setembro. É o candidato da mais expressiva parcela da população brasileira.
O Datafolha confirmou a tendência já registrada por outros institutos, embora com números distintos por diferenças de metodologia. Lula é o líder em todos os cenários e vem crescendo consistentemente, apesar da perseguição por setores do sistema judicial, com ampla repercussão negativa na mídia.
As pesquisas retratam a miséria eleitoral dos partidos identificados com o golpe do impeachment, que aprofundou a recessão e o desemprego, precarizou as relações no trabalho, desmonta as políticas sociais e entrega o patrimônio nacional. No PSDB, nem a versão ortodoxa, de Geraldo Alckmin, nem a carnavalesca, de João Doria, atraem o eleitor, que condenou Aécio Neves ao merecido traço.
As pesquisas mostram que Lula tem mais que o dobro das intenções de voto que Jair Bolsonaro, a alternativa autoritária fruto das campanhas de ódio e preconceito, do submundo da política e das redes sociais. E também tem o dobro das intenções de voto na antipolítica que Marina Silva representa hoje.
A pergunta que operadores da política, do mercado e da mídia se fazem é: por que Lula não só resiste, mas cresce na preferência popular, apesar das horas de noticiário negativo na Rede Globo, das dezenas de capas de revista e centenas de manchetes que o pintam como suposto responsável por tudo o que há de ruim no país, que o vendem como chefe de uma inexistente organização criminosa?
É mais inteligente reconhecer a sabedoria do povo, em vez de menosprezá-la como certos comentaristas e analistas. O povo compara a realidade atual com o legado de Lula; um tempo de oportunidades, crescimento, redução das desigualdades, valorização do trabalho e democratização do acesso à terra e ao crédito. Lula vive na memória e no coração do povo.
Quem acompanhou sua caravana pelo Nordeste percebeu isso nos olhos das pessoas. Se no passado Lula era a esperança, por sua história de vida e compromisso com os mais pobres, hoje o ex-presidente representa a certeza de que o Brasil pode retomar o rumo certo.
Mas é um engano supor que os eleitores de Lula seriam tolerantes com a corrupção, como fizeram em artigo os diretores do Datafolha. Perdem-se na suposta contradição entre a liderança de Lula e os 54% que, segundo o instituto, acham que ele devia ser preso, “considerando o que foi revelado pela Lava Jato”. O problema não está nas respostas; está na pergunta, que embute um prejulgamento.
A Lava Jato não “revelou” nada que envolva Lula com os desvios na Petrobras, o que foi reconhecido até por Sergio Moro em sua absurda sentença; nada que justifique condenação. É a mídia que faz a mediação entre as falsas acusações e o público, com presunção de culpa e desequilíbrio editorial, mas ainda é a Justiça que deve sentenciar em última instância.
Ou será que depois do julgamento midiático vamos nos submeter ao veredito estatístico? Lenientes, cúmplices e beneficiárias da corrupção são as elites que governaram este país por tanto tempo e não fizeram, como fez o PT, as necessárias mudanças na lei e nas instituições para enfrentar a impunidade.
O povo brasileiro, que não tolera e é vítima dos desvios, está cada vez mais consciente de que há só um caminho para superar a profunda crise que vivemos: retomar a democracia, em eleições diretas com a participação de todas as forças políticas, para que um governo legítimo possa resgatar a confiança e reconstruir o país.
GLEISI HOFFMANN é senadora e presidenta nacional do Partido dos Trabalhadores

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