Lula: “O problema deles era somente eu; agora são todos vocês”

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Menos de uma semana após os atentados contra a caravana de Lula pelo Brasil no Paraná, quando dois ônibus que acompanhavam o ex-presidente foram atingidos por tiros, milhares de pessoas se reuniram nesta segunda-feira (2) em ato suprapartidário no Rio de Janeiro para dar a resposta imediata contra o crescimento do fascismo no Brasil, que tem resultado em casos de violência que remetem aos piores períodos da história do país.

Com a presença das lideranças de diversos partidos de esquerda, movimentos sociais, figuras públicas e intelectuais, o ato no lendário Circo Voador na Lapa ainda lembrou da importância em manter viva a luta da vereadora Marielle Franco, assassinada no dia 14 de março dias após criticar publicamente a intervenção federal no Rio, e a necessidade urgente em defender a democracia e o direito do ex-presidente Lula ser um dos candidatos nas eleições de outubro.

Passava das 21h quando o ex-presidente Lula deu início à sua fala. Por ter sido escolhido para encerrar o ato, muitos dos presentes permaneceram no mesmo lugar por cerca de quatro horas para ter a chance de ver o ex-presidente de perto. Muitos se desdobravam para tentar tirar uma foto com aquele que é tido por muitos como a maior referência política das últimas décadas.

Lula abriu o seu discurso justamente relembrando de como era o país nos tempos em que era o presidente. “Não sei se já ouviram na casa de vocês a seguinte frase: ‘A gente só dá valor quando a gente perde.’ A sociedade foi ficando tomada de um ódio demonstrado 24 horas por dia, demonstrado em qualquer rádio, em qualquer jornal, em qualquer televisão.”

“É importante a gente lembrar que em 14 de dezembro de 2014 esse país tinha o menor índice de desemprego da história brasileira. Esse país chegou a tal ponto que em duas pesquisas feitas pelas Nações Unidas o Brasil era o povo mais feliz do mundo e o povo mais otimista do mundo.”

Sobre as manifestações de apoio para que seja um dos candidatos a presidente nas eleições de outubro, Lula lembrou que o mais importante no momento é o judiciário fazer justiça – e isto significa mantê-lo livre das acusações sem provas.

“Não estou aqui pelo direito de ser candidato. O que eu quero é que eles parem de mentir a meu respeito e devolvam minha inocência. Eu quero ser candidato, mas não posso ser vítima de uma mentira do jornal o Globo, do MP. Eu quero que decidam o mérito do meu processo.”

“Quero que parem de mentir a meu respeito, quero que digam a verdade a meu respeito. Não posso me calar diante da mentira mais escabrosa contada nesse país, contada por um procurador chamado Dallagnol.”

Frente contra o fascismo

A presidenta Nacional do PT, senadora Gleisi Hoffmann, foi uma das primeiras a se pronunciar durante o ato e lembrou do grande número de homicídios que ocorreram no Rio desde que o governo ilegítimo de Michel Temerchegou ao poder.

“Estamos aqui pelos mais de 70 assassinatos que ocorreram no governo Temer, de lutadores do povo, da Marielle, de indígenas. Essa gente que está aí dá guarida para a extrema direita, para que pratiquem os atos que desejam. O povo para esse governo tornou-se caso de polícia”, criticou Gleisi.

“Os partidos que estão aqui: PCdoB, PT, PSOL, PSB, PCO, as forças progressistas e populares, sabem que temos de ser arrojados. É muito grande a responsabilidade de cada um de nós aqui. A história vai nos cobrar por esse momento de responsabilidade, de combate às forças do atraso”.

Quem também fez discurso duro contra os retrocessos causados desde o golpe de 2016 foi o líder do PT no SenadoLindbergh Farias, que também elogiou o senso de unidade demonstrado pelo ato. “O recado que a gente dá para esses fascistas é que vamos estar unidos para lutar contra o fascismo e defender a democracia. Isso que a gente está vivendo nos dias de hoje, essa violência, foi precedido por outras violências, políticas, jurídicas e midiáticas”.

“O Rio está sob intervenção. A primeira coisa que a gente tem que exigir desse interventor é que descubra quem matou Marielle e Anderson. Agora tivemos cinco jovens de Maricá assassinados. Seis jovens assassinados na Rocinha. Quantas pessoas ainda têm que morrer em nome da Guerra às Drogas?”.

O ex-ministro Celso Amorim seguiu o mesmo o tom durante a sua fala.  “Não queremos subserviência. Quando a gente fala em soberania é para defender o pão do povo. É para defender que os recursos não saiam para fora do Brasil. A nossa luta é contra o fascismo, mas não só contra o fascismo, também contra as falsas alternativas, como o sistema autoritário da intervenção.”

Para o ex-prefeito de São Paulo,  Fernando Haddad, o ato também é por democracia e liberdade. “Este é um ato que preserva a integridade física das pessoas, que preserva a classe artística, que preserva a classe científica, e preserva uma parte boa da parte política que estará nas eleições”.

“Será que a direita nunca vai aprender a lidar com o povo a não ser na base da violência e da porrada, sem ser com tiro? Será que nunca vão entender que para esse país crescer precisa de divergência, precisa de contraditório?”

O discurso de unidade teve o respaldo na fala de lideranças de diversos partidos da esquerda. Entre elas, a deputada federal Jandira Feghali, do PCdoB. “Nós nunca abandonamos esse compromisso de construção democrática de uma democracia popular inclusiva que pudesse mudar a historia de nossa nação, de nosso país.”

“O ato no Rio de Janeiro hoje tem um significado enorme porque, apesar de termos várias pré-candidaturas, sabemos que a democracia impõe a nós a liberdade e a elegibilidade de Lula, mas também a unidade para termos uma quinta vitória nesse país.”

Manuela D’Ávila, também do PCdoB, fez discurso contundente contra o fascismo e em defesa de Lula.  “Lutar contra o fascismo em 2018 é lutar pelo povo brasileiro. Lutar, por exemplo, pela liberdade de escolha.  Aquilo que nos une é a luta pela liberdade do Brasil ser um grande país e nosso povo ser o que quiser ser”.

“Nós temos a missão de dizer que a luta democrática passa por defender o direito de Lula concorrer. A disputa em torno de Lula Livre e Lula candidato é a mesma disputa em torno da liberdade e da democracia.”

O deputado estadual Marcelo Freixo, do Psol, fez discurso emocionado. Ao lado de Mônica Benício, ex-companheira de Marielle Franco, Freixo lembrou da colega assassinada que, para ele, era como uma filha. “O que nos traz aqui é a luta pela democracia. Foi trazido aqui uma fala de Marielle pouco antes de ser brutalmente assassinada. Quantos mais precisam ser assassinados?”

“A democracia está acima de qualquer diferença que a gente tenha. Claro que a gente tem diferença e elas são importantes para provocar maturidade em cada um de nós. Vamos conversar com franqueza, com sinceridade, com honestidade. A nossa diferença é menor que a luta de classes.”

“O problema deles são todos vocês que estão aqui em defesa da democracia”

O ex-presidente também voltou a criticar a política entreguista de Temer e a constante retirada de direitos promovida pelo atual governo. “Nenhum presidente da república eleito teria coragem de fazer o que Temer fez sem ter nenhum voto: destruir os direitos trabalhistas que por décadas foram a razão da cidadania de milhões de pessoas.”

“O que eles não querem é que o Brasil jogue na lata do lixo o complexo de vira-lata a que fomos submetidos.”

Lula ainda disse que para combater os desmandos do governo federal e o crescimento do fascismo é preciso ter mais atos como o do Rio de Janeiro. “É um luxo para esse país que ficou 21 anos sob a ditadura militar ter tantos candidatos jovens. A liberdade do outro não pode evitar que a gente exerça a democracia. Não pense que a luta do povo termina, é todo dia.”

Sobre a defesa da democracia, o ex-presidente foi enfático: “A democracia para mim não é uma coisa pequena, a democracia é uma coisa que aprendi há muito tempo. Democracia não é só o direito de ir e voltar, mas poder ir e voltar. Eu nunca aceitei a ditadura militar e não vou aceitar a ditadura do Ministério Público e nem a ditadura do Moro.”

“Não posso aceitar que uns meninos que só prestaram um concurso público e por isso ganham 29 mil reais por mês julguem 50 anos da minha vida.”

“Vou dizer porque eu gosto da democracia. Em 1985 eu disse que não acreditava que os trabalhadores chegariam ao poder pela via do voto. Em 1989 eu fui para o segundo turno e tive quase 47% dos votos. Aí vi que dava para chegar. Pensei que tinha me organizado e perdemos em 1994, perdemos em 1998. Até que veio 2002. Eu acho um gesto heroico do povo brasileiro apertar na cédula eletrônica o nome de um torneiro mecânico sem diploma universitário para ser presidente desse país. Achei um gesto revolucionário.”

“O problema deles é que vocês não querem mais ser tratados como gado. O problema deles agora não sou eu. O problema deles são todos vocês que estão aqui em defesa da democracia deste país.”

Henrique Nunes, da Redação da Agência PT de Notícias, enviado especial ao Rio de Janeiro

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