PUC-SP vira trincheira em defesa da democracia

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Milhares de pessoas lotaram o teatro da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), o TUCA, na noite desta quarta-feira (16), para celebrar a Legalidade Democrática. Com a presenças de juristas, artistas e intelectuais, o evento defendeu a Constituição de 88 e a democracia brasileira.
Organizado pelos estudantes do Centro Acadêmico de direito da PUC-SP e o Fórum 21, além de artistas e juristas de esquerda e representantes de movimentos sociais, o evento não comportou todos. Muita gente não conseguiu entrar e ficou do lado de fora do teatro para acompanhar a transmissão por um telão.
Durante ao evento, o público se levantou e começou a entoar a palavra de ordem: `Não vai ter golpe`, em apoio ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, nomeado ministro da Casa Civil pela presidente Dilma Rousseff, na tarde desta quarta-feira.
O ator Sérgio Mamberti, Isabella Borges Compagno e Laura Carvalho mediaram o ato que teve transmissão ao vivo pela TVT, e pelos Linha Direta e Fundação Perseu Abramo.
Presente no ato, o escritor e jornalista Fernando Morais pediu para todos ficarem de vigília permanente contra o golpe. “Se em 1964, o covil da onça era a república do Galeão, no Rio, agora é o Ministério Público de Curitiba. Dessa vez não passarão. O seu juiz Sérgio Moro saiba que a partir de agora estaremos de vigília cívica, estamos em assembleia permanente contra o Golpe ”, frisou o escritor.
O advogado, escritor e jurista Fábio Konder Comparato relatou que o Brasil sofre de duas doenças, a econômica e a política. “Nós estamos sofrendo uma doença muito grave, semelhante aquela que acometeu o país, em 1964. Diante de uma doença é preciso superar analise dos sintomas e verificar as causas. Há duas causas imediatas da crise atual, a primeira é econômica […] a segunda causa imediata é política. É preciso entender que no país teve quatro séculos de escravidão legal, o desprezo pelos pobres, sobretudo pobres e negros que dificilmente acabará e acontece que Luiz Inácio Lula da Silva foi a primeira pessoa oriunda da classe proletária que assumiu a chefia e sabe toda história, de toda republica. O preconceito contra Lula é, portanto, muito forte”, disse o jurista.
Para o economista e professor Luiz Gonzaga Belluzzo só quem perdeu a democracia sabe como valorizar. “Só quem perder a democracia sabe valorizar. Eu perdi com 21 anos”, lembrou o economista.
Presidente da CUT, Vagner Freitas enviou um recado a classe trabalhadora frisando que, em geral, golpes como esses que estão sendo construídos aqui no Brasil são para se fartar dos direitos dos trabalhadores e escravizá-los ao capitalismo. “Os trabalhadores defendam a democracia, o golpe não é contra a Dilma, o Golpe é contra você”, destacou o sindicalista.
O Advogado administrativista, escritor e professor da PUC de São Paulo, Celso Antônio Bandeira de Mello, frisou que o grande inimigo do povo é a imprensa e lembrou das lutas realizadas na PUC-SP. “A luta pela democracia, pela defesa dos direitos, é uma tradição desta faculdade. Eu me recordo do tempo do golpe militar, eu era vice-reitor acadêmico nesta época. Geraldo Ataliba era o Reitor e tivemos que enfrentar muitos momentos duros, muitos piores do que os atuais […] o culpado disso, pode se buscar várias explicações, podemos fazer várias indagações e profundidade, eu vou direto ao ponto: o maior inimigo do povo brasileiro é a imprensa, é a imprensa golpista”, afirmou o professor.
A psicanalista Maria Rita Kehl também lembrou das atividades de luta na PUC e frisou que ali é um espaço de reencontro. “Esse espaço aqui [Tuca-PUC] é um espaço de reconhecimento que encontra as pessoas que são dessa luta há muito tempo pela democracia, pela diminuição da desigualdade, pelos direitos humanos. Essa universidade que cumpre esse papel de universidade católica, desde o tempo da Ditadura, desde o tempo que abrigava as poucas reuniões que deveria ter, é o que encontra aqui também os jovens, porquê se fosse só a nossa geração seria um pouco melancólico”, ressaltou. Para ela, o que está em jogo, como sempre, é a luta de classe.
A filosofa Marilena Chaui fez uma análise do momento que estamos vivenciando no Brasil e falou da onda conservadora que tomou o país. “Não é só a ameaça do golpe, não é só isso, não é só o problema da crise econômica, porque é mundial e vale no Brasil também. O problema é que de um lado o conservadorismo reacionarismo político, que tomou conta da Europa, depois dos acontecimentos de Paris, está tomando conta dos Estados Unidos […] você tem uma onda conservadora ligada, sem trava, sem uma possibilidade de segurança, que é esse momento neoliberal do capitalismo, é um capitalismo sem trava de segurança. É nesse contexto que nós temos então crise econômica no Brasil e nós temos a ameaça política do golpe, mas isso é apenas a superfície. O que nós temos efetivamente é a consolidação de uma perceptiva conservadora e reacionária que a maré não só dessa multidão que sai às ruas para xingar, para gritar, mas não tem uma proposta, não tem um programa, não tem um plano, não tem nada”, destaca a professora.
O secretário municipal de juventude do PT paulistano e membro do Centro Acadêmico 22 de Agosto, da Faculdade de Direito da PUC-SP, estudante Vitor Marques, falou da importância de realizar o ato na PUC de São Paulo e faz uma reflexão. “A PUC sempre foi um pólo de resistência em favor da democracia. O momento exige grandeza para discutirmos o momento político no plano das ideias. Mais uma vez artistas, juristas, intelectuais e movimentos socais incidiram no curso da história aqui no TUCA, fizemos história”, disse o dirigente estudantil.
O evento ainda contou com a presença do presidente do Partido dos Trabalhadores, Rui Falcão, da jornalista Renata Mielli do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, da presidenta da União Nacional dos Estudantes, Carina Vitral, do vereador pelo PCdoB da capital paulista, Jamil Murad, e do secretório municipal de Direitos Humanos e Cidadania da Prefeitura de São Paulo e ex-senador, Eduardo Suplicy, dentre outros parlamentares, artistas e intelectuais.
 
Fonte: Elineudo Meira, para portal Linha Direta | Foto: Paulo Pinto

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