Coronavírus além dos números: Nayara e Paula

0
971

– com Martha Funke, da Rede de Comunicadores da Liderança do PT

Dando sequência à série “CORONAVÍRUS: ALÉM DOS NÚMEROS”, apresentamos dois depoimentos que retratam as dificuldades enfrentadas por trabalhadoras e trabalhadores que não têm a opção de trabalhar à distância, em regime de teletrabalho (o famoso home office). Moradoras de bairros periféricos de regiões diferentes da cidade de São Paulo, elas comentam as dificuldades enfrentadas para cumprir a jornada diária de trabalho.

Diante do decreto de situação de emergência e calamidade pública no município, decorrente da pandemia de Covid-19, o governo do estado de São Paulo determinou o fechamento do comércio e todos os serviços não essenciais. Supermercados, hipermercados, padarias e açougues podem continuar abertos; já os bares, cafés e restaurantes devem permanecer fechados para o público, podendo funcionar por delivery. A decisão sobre a forma de trabalho, contudo, depende de acordo entre o patrão e o empregado – cuja assimetria de poder determina, na prática, uma decisão unilateral do empregador.

Reveja as duas primeiras histórias retratadas pela série:

+ UMA MÃE AFLITA NO PARQUE FERNANDA

+ UM PAI TENTANDO ALIMENTAR SEU FILHOS

QUANDO A QUARENTENA NÃO É UMA OPÇÃO

Hoje vamos contar a história de duas trabalhadoras, que vivem em regiões diferentes da cidade de São Paulo, mas ambas funcionárias de uma loja que vende chocolates na rua Pamplona (região da avenida Paulista). A primeira delas é a Nayara Rodrigues de Castro, 29 anos, casada com Rosimar e moradora de Itaim Paulista, zona Leste. A outra é a Paula Francine Rodrigues Silva, 34 anos, casada com Tiago, com quatro filhos – Fabrício, 18, Eduardo, 15, Gabriel, 12, e Daniel, 6, moradores do Jardim Vista Alegre, na zona Norte. 

NAYARA (à esquerda): “Eu pego trem e metrô e venho andando da estação Trianon Masp até aqui [o seu local de trabalho]. Levo no mínimo uma hora, porque meu marido consegue me levar até a estação de trem mais próxima da minha casa. Aqui só paga a condução de um ônibus, mas não tenho de pegar e se tivesse demoraria quase duas horas. O metrô está mais vazio, sempre tem equipe de limpeza e dentro a maioria anda de máscara e luva. Eu não uso porque a empresa não fornece, a gente ganhou hoje de uma cliente, a máscara… e está sempre passando a mão e a maquininha [de pagamento] no álcool gel o tempo todo.

A loja está meio aberta, hoje a gente já ia fechar [2 de abril, por volta das 19h, dia da entrevista] mas o dono passou aqui e falou que não era para fechar que ele tinha mais entrega para fazer e era pra gente esperar. A gente fica aberto mas de certa forma corre até um risco, porque é a única loja aberta aqui… O dono tem mais cinco lojas e não passa todo dia aqui, hoje passou porque tinha entrega.

Eu abro a loja e tenho muito medo de ficar doente. Moro sozinha com meu marido e ele está trabalhando também, em oficina mecânica, não fecharam. Meu tio trabalha em hospital, na parte de limpeza, no [Hospital do] Graac, e está doente… só que não foi confirmado porque os médicos não quiseram encaminhar, deu pneumonia e ele está em casa tomando medicamento.

Aí a gente ficou assim [com medo]… Porque tem de frequentar a casa dele também, meu tio e minha mãe moram juntos. Ela toma todos os cuidados, né, mas já tem 59 anos. Pelo menos fiquei com trabalho, a gente ficou afastada no começo, depois uns dias de férias em casa e retornamos de novo no dia 6 de abril.”

PAULA (à direita): “Eu pego três ônibus, um até o terminal Cachoeirinha, do terminal até o Limão e do Limão para cá. Com menos trânsito dá uma hora e pouco. Moro com esposo e quatro filhos e quando eu chego em casa passo direto pro banheiro, mesmo porque meu filho Gabriel tem asma e eu sou cardíaca, estou no grupo de risco…

Já vi equipe de limpeza no terminal Cachoeirinha, quando a gente entra no ônibus a equipe acabou de sair. Meu marido foi dispensado, trabalhava em obra, registrado, está de aviso prévio mas ainda ia fazer seis meses, não sabemos se dá tempo para pedir o seguro-desemprego.

Ninguém está indo para a escola, meu filho do meio ia tentar ontem, não estava conseguindo [fazer as aulas online]… aí a gente viu uma reportagem ensinando a tentar de novo, mas não estava conseguindo acesso. E também não recebi nenhum material didático do mais novo, que está na creche. Disseram que iam mandar material pedagógico mas não veio.”

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui
Captcha verification failed!
Falha na pontuação do usuário captcha. Por favor, entre em contato conosco!