Gleisi Hoffmann: Colapso das instituições democráticas

0
1195

A frase da cineasta Maria Augusta Ramos, em entrevista ao jornal alemão “Junge Welt”, define com precisão o momento atual. Não vivemos a normalidade democrática, institucional, tal qual acordado no processo constituinte de 1988. Pode-se até empurrar goela abaixo da sociedade brasileira uma pretensa normalidade, com uma dose cavalar de manipulação midiática, mas de normal essa situação não tem nada.
O tripé que sustentou a Constituição até agora está sendo desmontado. A democracia formal, de baixa intensidade, baseada no voto universal e em eleições livres e democráticas, começou a ser desconsiderada com oimpeachment da Presidenta Dilma. Continua a ser atacada com o objetivo de proibir Lula de participar das eleições. Que democracia nos sobrará?
As garantias sociais mínimas, outro pacto da Constituição, explicitado com a inclusão da Seguridade Social, direito mínimo do povo à saúde, assistência e previdência, e reforço à educação, foram dizimadas com a emenda constitucional 95 e as nefastas reformas que vieram em seguida. Que bem-estar o Estado brasileiro dará ao seu povo?
E a soberania, o que estão fazendo com ela? A submissão novamente aos interesses e orientações dos norte-americanos, inclusive na atuação do poder de polícia, a exemplo da intervenção no Rio de Janeiro e da formação da Polícia Federal e do Ministério Público com a CIA e o FBI, é uma realidade. Arremate-se aqui com o desmonte da Petrobras e, agora, com a venda da Eletrobrás. O que vai ser da soberania brasileira depois desses ataques?
Vivemos um momento diferente, se não totalmente em um regime de exceção, caminhamos para ele a passos largos, sem qualquer sombra de dúvida. O mundo inteiro sabe que sofremos um golpe e vê o Brasil com incredulidade. E tristeza. Um país que garantiu espaços importantes de protagonismo e de liderança internacional para a busca de soluções às grandes mazelas da nossa civilização, como a fome, a desigualdade social e a dependência econômica, foi de repente rebaixado a uma postura de submissão humilhante.
A imprensa internacional tem narrado com mais isenção os fatos e levantado os questionamentos que por aqui não são feitos, exceto por veículos independentes, blogs de esquerda e lideranças populares. Algumas pessoas até se surpreendem quando tomam conhecimento da repercussão externa e da consciência que se tem lá fora quanto à gravidade do problema que estamos enfrentando, tão aclimatadas que estão com a polarização política e com a apatia ou banalização desse quadro.
A aclamação e premiação no Festival de Cinema de Berlim do filme de Maria Augusta Ramos, “O Processo”, que fala sobre o impeachment de Dilma, é uma mostra clara do que o mundo está pensando a nosso respeito.
Infelizmente, o Brasil hoje é refém de uma elite perversa, misógina, racista e homofóbica, que o envergonha no plano internacional e traz tristeza e infelicidade ao seu povo.
Até censuras às produções artísticas e culturais voltaram ao uso. Recentemente, ganhou repercussão nas redes sociais e sites a investida para a proibição pelo Ministério da Educação (MEC) da disciplina “Tópicos Especiais em Ciência Política 4: O golpe de 2016 e a democracia”, a ser ministrada na Universidade de Brasília (UnB) a partir deste ano letivo.
Os ataques à UnB e ao professor idealizador da matéria, Luiz Felipe Miguel, ferem a autonomia universitária. O professor recebeu inúmeras manifestações de solidariedade e a disciplina, que visa a debater a realidade no ambiente da produção do conhecimento por excelência que é a universidade, já tem até lista de espera, segundo noticiam alguns veículos de comunicação.
As eleições de 2018 podem começar a recolocar o país nos eixos, desde que respeitados os princípios do voto universal e de eleições livres e diretas. Isso inclui a participação de Lula. Um impedimento seu, que seria o único em todos os casos da Lava Jato, só consumará o estado de exceção.
A defesa persistente e forte que fazemos da candidatura Lula é a defesa do pacto constitucional de 1988, a defesa da jovem democracia brasileira, que alcançou seu período contínuo mais duradouro. Não ter essa clareza é flertar com o autoritarismo, qualquer que seja a justificativa.
O PT não tem apenas o direito de lançar a candidatura de Lula à Presidência da República, mas o dever para com a sociedade brasileira e com a história do nosso povo de sustentá-la. Restaurar a democracia é garantir a candidatura de Lula e o direito do povo brasileiro de votar em quem representa a esperança de voltarmos a ser uma nação respeitada e capaz de assegurar condições de vida digna para a população.
Por isso nossa resistência, persistência e luta. Não vacilaremos!
Gleisi Hoffmann é senadora da República e presidenta nacional do Partido dos Trabalhadores.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui
Captcha verification failed!
Falha na pontuação do usuário captcha. Por favor, entre em contato conosco!