Profissionais da saúde vivem os riscos da Covid-19

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– por Marcelle Rocha Ribeiro, da Rede de Comunicadores da Liderança do PT

Considerando os dados da rede de saúde pública e dos principais hospitais particulares da cidade de São Paulo, estima-se que cerca de 2 mil profissionais da saúde estejam afastados por suspeita ou contaminação de Covid-19 nos últimos 20 dias, período que corresponde ao avanço da epidemia no Município.

A alta taxa de contaminação entre médicos, enfermeiros, técnicos e auxiliares é uma realidade em quase todas as cidades que enfrentam o problema ao redor do mundo. Ainda não há estudos conclusivos sobre por que muitos profissionais são infectados, mas a falta de equipamentos de proteção individual (EPI) tem sido apontada como a principal causa de contaminação.

Se esses números já preocupam as autoridades e a população, que temem pela quantidade insuficiente de profissionais e qualidade da assistência prestada, para as pessoas que estão na linha de frente no combate ao Covid-19 esse cenário é responsável por profundos impactos em sua saúde mental.

O medo de se contaminar no trabalho e transmitir a doença para os familiares causa muita ansiedade, mas não é o único motivo de desconforto emocional, alerta a psicóloga Silvia Ribeiro, que já atendeu cerca de 15 profissionais, entre enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem, desde o surgimento dos primeiros casos em São Paulo.

Silvia Ribeiro, psicóloga, fala sobre impactos da pandemia na saúde mental dos trabalhadores da saúde | Foto: Acervo Pessoal

Por ter trabalhado em um hospital da rede privada no ano passado, Silvia conhece bem a rotina profissional e suas consequências para a saúde mental desses trabalhadores. “Em comparação com os médicos, esses profissionais têm contato mais próximo e por mais tempo com os pacientes infectados, então, a exposição ao risco é muito maior. Como é uma categoria precarizada, com remuneração baixa e jornada de trabalho excessiva, eles se questionam ainda mais sobre os riscos que estão correndo”, ela conta.

Sem apoio psicológico em seus locais de trabalho e sem recursos para acompanhamento psicológico particular, a situação atual é bem mais grave. “Agora, esses pacientes chegam até mim muito mais afetados psicologicamente, com crises de ansiedade, distúrbios do sono, choro excessivo, fluxo de pensamento acelerado, taquicardia e até depressão”, segundo a psicóloga.

 “A primeira coisa que eles falam é que sabem que vão contrair a doença e a ansiedade surge justamente pela espera de quando será a sua vez. Quase todos os meus pacientes relataram casos de colegas afastados, então, fica muito difícil controlar as emoções”, conclui.

A “certeza” de saber que será infectado se contrapõe às incertezas em relação ao futuro, em razão das condições que terão para enfrentar a doença e suas consequências. Se de um lado há muito orgulho da profissão e a consciência de sua importância para a sociedade, por outro, há uma insatisfação relacionada à valorização profissional.

Nos casos tratados por Silvia, o componente financeiro tem sido um aspecto importante no agravamento do estado psicológico. “O mercado de trabalho estava em baixa para esses profissionais, então, para muitos, a crise trouxe oportunidades de emprego, mas nessas condições de risco, sobrecarga de trabalho e precarização”.

O fato das carreiras relacionadas à enfermagem serem predominantemente ocupadas por mulheres, milhares de profissionais responsáveis pelo cuidado de familiares estão mais expostas e passíveis de contaminar crianças e idosos.

Muitas pacientes têm se queixado, também, da pressão financeira por serem a principal fonte de renda da família ou a única, uma vez que seus maridos e companheiros perderam os empregos por causa da crise ocasionada pela pandemia. 

A possibilidade de se afastar temporariamente ou abandonar o emprego para proteger seus familiares não é uma opção viável para a maioria delas, o que agrava ainda mais seu estado emocional.

Para a Silvia, todas as instituições deveriam oferecer um acompanhamento psicológico para suas equipes porque o adoecimento mental desses profissionais pode afetar a qualidade do atendimento aos pacientes, podendo até mesmo ampliar o número de afastamentos por motivos de saúde.

“Há muitos grupos de apoio psicológico voluntários sendo criados para ajudar a população e os profissionais da saúde, mas não serão suficientes para atender a todos”, complementa.

SINDSEP OFERECE AJUDA

Preocupados com a saúde mental dos servidores municipais e atentos ao aumento do número de profissionais afetados, o Sindicado de Servidores Municipais de São Paulo (Sindsep), publicou um e-book sobre os cuidados com a saúde mental.

O material “Cuidando de quem cuida”, pode ser baixado no site do Sindicato, que disponibilizou também o e-mail [email protected] para ajuda psicológica e, a partir da próxima semana, promoverá encontros virtuais com a terapeuta da Secretaria de Saúde do Trabalhador.

Mais informações, acesse o site do Sindicato.

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